Magia negra e Satanismo

Magia negra e Satanismo

«O Diabo tem uma desculpa em seu favor: há que lembrar que só ouvimos uma versão de uma das partes neste caso; Deus tem escrito os livros todos»

Samuel Butler  ( 1835 – 1902)

O satanismo envolve o culto e devoção a Satanás, assim como envolve o culto e veneração a demónios, e igualmente aos deuses e deusas pagãos das antigas religiões. No satanismo, professa-se igualmente existência de bruxas e bruxos, a pratica das artes da bruxaria e da magia negra, a persecução dos mistérios do oculto, não enquanto pecados, mas sim como expressões livres de quanto o mundo do espírito pode influenciar o mundo dos vivos. Encara-se o mundo do espírito enquanto uma realidade, um mundo tao real quanto o mundo dos vivos, e que um e outro se podem cruzar e influenciar através da magia negra, ou seja, o poder magico alcançado através de aliança com espíritos de trevas e demónios.

O Satanismo desde a Idade Media

Na Idade Media, ordens religiosas como Cátaros, Valdesianos e Templários praticaram a doutrina satanista, e prestaram culto a Satanás , assim como veneram a demónios, e adoraram ás antigas Deusas da antiguidade, considerando que o Deus que a Igreja anunciava era um Deus cruel, vingativo e sanguinário. Por isso, veneraram a Satanás, assim como adoptaram o ancestral culto das Deusas, entidades vistas como demónios pela cristandade, e que concediam favorecimentos, prosperidade, fertilidade, prazeres e deleites, ao invés dos massacres, castigos, vinganças e punições do Deus da Igreja de Roma. O conceito de Lúcifer enquanto um «portador de luz», era o oposto de um Deus que negava o acesso á sabedoria e ao conhecimento, conforme sucedeu com Eva e Adão, por esse motivo castigados, amaldiçoados e expulsos do Paraíso. Acreditava-se que o conhecimento, a auto-estima, o prazer, a abundância da riqueza, a paixão, o bem-estar, o saciar dos apetites, a sabedoria, são encaradas com virtudes, e não pecados. A auto-castração, viver em pobreza, viver em sofrimento, viver em auto-culpabilidade permanente, e viver constantemente em temor como um animal prostrado com receio do severo castigo vindo do chicote do seu dono celestial… não eram já coisas encaradas com virtudes, como o são pelo Deus da Igreja. Dai o afastamento da Igreja, e a incursão pelos caminhos do seu oposto, o satanismo.

Os Satanistas desde a Idade Média apontam uma frase bíblica, na qual Jesus nomeia o Diabo ao invés de Deus, enquanto Pai, (João 8:44). Outra passagem é mencionada, onde é confirmado que o Diabo é o príncipe e senhor deste mundo (João 12:31), e outra onde se atesta que o Diabo é o Deus deste mundo ( 2 Coríntios 4:4) : Essas teses, também apontam que Jesus esteve diante de um Pacto demoníaco ,( Lucas 4:5-8 , Mateus 4:8-9), e que observou os poderes que o Diabo concede a quem com ele faz Pacto, conforme o Diabo lhos descreveu a Jesus, nas suas tentações do deserto. Curiosamente, estas mesmas passagens são usadas por vários demonologistas da Idade Media para confirmar Biblicamente a existência de Pactos com o Diabo, e dos poderes que daí advém para as bruxas e bruxos. Foi com fundamento nestas passagens que muitas praticas ritualísticas satânicas foram adoptadas em ritos de bruxas e bruxos, assim como por padres satânicos e freiras satânicas.

Na Idade Média, um dos mais célebres casos de culto satânico foi o da ordem dos Templários, onde se venerou a demonios, se praticou magia negra, e onde existiram sacerdotes satanicos no seio da própria Igreja. A ordem religiosa foi fundada na Idade Média por Hugo de Payens, a ordem religiosa dos Templários (1118 – 1312) era a mais poderosa da Europa. Tão poderosa, que os mais poderosos reis europeus se curvavam perante as suas riquezas e poder. Até o próprio Vaticano temia a ordem dos Templários, pelo que muito conspirou para a extinguir. Tais conspirações acabaram por ter sucesso, com a ajuda do rei Francês Filipe IV, o belo. Quando a ordem dos Templários foi extinta, Jacques de Molay (1243 – 1314), o seu ultimo grão mestre, foi aprisionado e condenado á morte pela pratica de magia negra, e por celebração de culto adoração ao Diabo. Sabe-se que antes da sua execução, ( ocorrida em 18 Março 1314), Jacques de Molay – o ultimo grão-mestre dos templários – rabiscou encantamentos de magia negra nas paredes da cela onde estava detido, e disse na hora da sua morte, que no prazo de um ano, todos os seus carrascos iam morrer. A verdade é que meses após a sua morte, os nomes por ele rabiscados nas formulas de magia negra faleceram todos, fosse de estranhos acidentes, ou de sinistras doenças que subitamente os infestaram. Até o próprio rei de França que o mandou matar, morreu misteriosamente e ainda relativamente jovem, e nesse mesmo ano, 9 meses depois. A maldição de magia negra não falhou. Nenhum deles sobreviveu á maldição do grão-mestre.

Sobre os Templários e a sua crença satanista, fez menção ao célebre ocultista Francês Eliphas Levi ( 1810-75), na sua gravura de um bode sabático, ou o bode de Mendes, ou Baphomet. O demonio com cabeça de bode, era o demonio das bruxas que presidia á celebração dos seus Sabbat, e era o Deus venerado pelos templários. Na visão de Eliphas Levi, o bode representava o poder supremo do Universo, visão que os Templários também partilharam.

Origens históricas do Satanismo

O historiador Parisiense Jules Michelet ( 1798 – 1874) debruçou-se sobre o satanismo e a bruxaria na sua notória obra Satanism and Witchcraft, publicado em Londres no ano de 1863,  assim como Joris-Karl Huysmans ( 1848 – 1907), no seu livro Lá-Bas , onde o autor acaba por concluir que o Satanismo, longe de ser algo do passado, está vivo e bem vivo, no virar do século XIX para o século XX.  O próprio celebre poeta Francês Charles Boudelaire (1821 – 1867), abordou o Satanismo no seu notório poema Les Litanies de Satan, ou As Litanias de Satan.

Há perspectivas históricas que defendem que o satanismo, com os seus ritos de magia negra, com as suas invocações aos mortos, com as suas conjurações a demonios, e com as perversões litúrgicas dos ritos oficiais da Igreja, tem raízes milenares no culto maniqueísta da antiga Pérsia.

Maniqueu (216-274) foi um teólogo, um religioso, um profeta e um escritor. Foi também fundador do maniqueísmo, uma religião gnóstica e dualista que se iniciou no seculo III, presentemente já extinta, mas que foi popular na Antiguidade. Esta religião no seu auge chegou a alcançar as fronteiras de China, e o norte de África. Foi por isso ferozmente combatida na Babilónia, assim como pelo império de Roma já sob governo de imperadores cristãos. Por todo o lado onde se espalhava, a religião de Maniqueu foi considerada herética, tal como o satanismo.  O maniqueísmo foi a grande religião rival do cristianismo durante séculos, e a sua tentativa de renascimento das antigas crenças pagãs era intolerável para a Igreja. Por isso, a Igreja perseguiu os crentes do maniqueísmo até a sua quase-extinção.

Os Ophitas eram uma seita gnóstica que existiu no século II d.C, e o seu nome deriva da palavra grega «serpente». Os membros dos Ophitas eram chamados de naassianos, termos que deriva da palavra hebraica que designa «serpente». Os Ophitas professavam que Satanás, a serpente, era um Deus libertador que havia aberto ao homem as portas do conhecimento, contra um Deus opressor que negava o conhecimento ao homem. A doutrina desta religião, era enraizadamente maniqueísta, e foi ferozmente combatida e perseguida pela Igreja.

Porque é que o maniqueísmo era uma heresia para a Igreja ? Porque a religião maniqueísta, era uma religião gnóstica e dualística. «Gnóstica», significa que se pode alcançar a salvação através do conhecimento, e não simplesmente através da exigência de uma fé cega e de uma abstinência castradora, conforme defende a Igreja. «Dualística» significa que acredita que a Criação – o universo, ou os universos, e tudo aquilo que existe – provem da interacção e oposição de dois princípios opostos: o bem e o mal, a luz e as trevas, o calor e o frio, o positivo e o negativo. Sem esta contraposição dinâmica e dualística entre dois opostos, não há movimento, não há energia, não há criação, e logo… não há nada. Logo, para haver uma criação, terão sempre de haver estes dois princípios opostos que se confrontam, que se contrapõem, e que interagem.  No fundo, para haver criação tem de haver uma entidade de luz, e uma de trevas, um Deus e um Diabo. Ambos são Deuses, ambos são criadores, ambos são igualmente poderosos, e ambos – interagindo dualísticamente entre sí – são o motor que dá origem a tudo aquilo que existe. Em suma: uma tal filosofia, é diametralmente antagónica àquilo que defende a doutrina da Igreja, que é a existência de um único Deus Criador. Ora, toda esta doutrina religiosa maniqueísta, é uma pavorosa heresia para o cristianismo de Roma. Porem, foi o berço do Satanismo. A crença num Deus da Terra tão igualmente poderoso como Deus Javé dos céus, e que se opõem ao Deus dos céus, sendo esse oposto o Senhor da Terra e do mundo dos mortos, por antagonismo ao Deus cristão que é o Senhor do Céu… tais conceitos, são noções muito similares aos conceitos das religiões pagãs da Antiguidade. Tais noções podem ser encontradas na religião da Grécia Antiga, que via Zeus como um Deus no céu, sentado do alto do seu trono no Olimpo, e Hades como um Deus na terra e sentado no seu trono do Submundo, ou do Além-túmulo, ou o mundo dos mortos. Da mesma forma o viam as religiões nórdicas, com a dualidade entre Odin de Hela ou Loki. No cristianismo, essa noção era preenchida pela oposição entre Deus e o Diabo, porem ambos – na perspectiva maniqueísta – vistos como dois Deuses Criadores de igual poder e estatuto.

As doutrinas gnósticas que acabaram por dar origem ao satanismo, eram professadas por cultos e seitas da Pérsia. Era a doutrina segundo a qual existem dois poderes originais que degladiam em guerra um contra o outro, e que essa guerra constante é travada entre os dois desde o inicio da criação. Essa doutrina foi adoptada pelos Ofitas, os Nasseni, os Etíticos, entre outros, para os quais a serpente era o símbolo principal. Os Ofitas professavam eles que o Criador era mau, e que o Tentador, a serpente, era na verdade o benfeitor do homem. Já os Cainitas levaram a doutrina dos Ofitas um passo em diante, retirando as conclusões lógicas daquele sistema de pensamento, ou seja: Visto que o Criador do Antigo Testamento era um Deus cruel e mau, então tudo aquilo que é recomendado nas escrituras deve ser igualmente mau, e inversamente, tudo aquilo que nelas é condenado é bom. Caim e todos os ostracizados da Bíblia, devem ser encarados como heróis a ser admirados, como exemplos de insurgência contra um Deus sádico e mau. Judas deve ser encarado como o único e verdadeiro apóstolo de um Deus bom, e Satanás é esse Deus. A bruxaria e magia negra são a forma mais nobre de culto, os Deusas e Deusas pagãs devem ser novamente venerados, e acima de todos eles, está o Senhor Deus Lúcifer. Este culto propagou-se na Idade Media, e assim nasceu o Luciferianismo, e os seus seguidores luciferianos. As cerimónias dos Cainitas ocorriam por isso no decorrer dos Sabbat das bruxas. Estes ensinamentos foram proclamados pelo profeta Maniqueu (216-274), que num Domingo, dia 20 de Março de 242 os anunciou na grande cidade de Ctesifonte, capital do império Arsácida, no reino Persa. Dai em diante, elaboraram-se os evangelhos de Mani, o Persa, dando origem á religião Maniqueísta, que é o berço do satanismo. Esta doutrina foi a doutrina das bruxas da Idade Média, e nalguns círculos do oculto, ainda é a doutrina satanista dos dias de hoje. Por volta dos anos de 660 d.C, surgiram os Paulicianos, uma seita Maniqueísta que abominava o Antigo Testamento, os Sacramentos e o Sacerdócio. Eles adoravam abertamente a Satanás, repudiando a Santa Missa e o Baptismo. Eram conhecidos pela revolução vermelha, a quem a tanto a Igreja como o império romano perseguiram ferozmente. Esta seita Paulicina instalou-se em Philippopolis, na actual Bulgária, e nos anos de 1115 ali foi mais uma vez perseguida impiedosamente pelo imperador bizantino Alexis Comnenus ( 1048 – 1118), decidido que estava em converter todos os hereges. A perseguição  apenas resultou em levar os hereges a espalharem-se rapidamente pela França e Itália, iniciando-se assim o movimento de propagação das seitas satanistas por toda a Europa Ocidental.

Acredita-se que os célebres Templários foram beber aos conhecimentos desta ancestral religião maniqueísta, e foi a partir daí – tal como sucedeu com os monges Cátaros e padres Valdesianos – , que nasceu o Satanismo na Europa. Com os templários e o renascimento do interesse por um Arqui-Demonio todo-poderoso que se opõem em pé de igualdade com Deus, deu-se inicio a uma violenta perseguição e condenação de bruxas e bruxos ao longo de toda a Idade Media, a até depois dela.  O termo «satanismo» ficaria soterrado nas areias do tempo, para apenas ressurgir em 1896, aquando da celebração de Missas Negras.

Ritos satânicos conforme o Compêndio das Bruxas

No «compendium maleficarum» , ou o «O COMPÊNDIO DAS BRUXAS» de 1608, do padre Italiano Francesco-Maria Guazo (n. 1570)  , são descritas as varias finalidades para que uma bruxaria podia servir, assim como os seus poderosos  efeitos. O padre observou pessoalmente casos de bruxaria, de magia negra e possessões demónicas, tendo sido testemunha dos poderosos efeitos da magia negra.

No «compendium maleficarum» , ou compêndio das bruxas, assim podemos ler que «Toda as bruxas juram obediência e sujeição para com o Diabo. Prestam homenagem e vassalagem ao demónio através de cerimónias obscenas, de devassas luxurias e de heréticas perversões. Depois, colocam as mãos sobre um grande livro negro do Diabo que lhes é apresentado. Trata-se do Livro dos Mortos do Diabo, o oposto do Livro da Vida do Deus cristão. Colocando a mao em cima do livro, as bruxas ligam-se ao Diabo através de juramentos blasfemos de nunca retornar á fé cristã, não observar os preceitos cristãos, e não realizar nenhuma obra da Igreja. Não aceitarão mais os divinos preceitos de Deus, mas sim os impuros desejos do Diabo. Jamais frequentarão novamente os sagrados ritos da Igreja, mas sim atenderão apenas aos profanos Sabbat e Missas Negras da magia negra. Estes juramentos nocturnos são prestados á meia-noite, em sabbat satânico.»

Cotton Mather foi um célebre demonologista e o autor de obras como «Wonders of the invisible world», (1693) , um grimório muito influente nos círculos do oculto e da demonologia. Cotton Mather observou na sua obra que as bruxas tendem a organizar-se em grupos semelhantes ás igrejas congregacionais. A essas igrejas satânicas congregacionais, chavam-se «colmeias». A expressão «colmeia de bruxas» foi usada Pierre de Lancre em 1609 quando o jurista eclesiástico e demonologista foi enviado para a zona Basca, a fim de investigar o que ali se passava, pois havia fortes rumores da existência de cultos heréticos a deuses pagãos e demónios. Em sequência dessa investigação, eis que em 1608 descobriu-se a existência de um jovem padre chamado Pierre Bocal, que aos domingos celebrava a missa cristã, e porem durante as restantes noites da semana realizava ritos nos quais usava uma cabeça de bode enquanto oficiava veneração ao demónio, e aos velhos deuses pagãos. Estava assim comprovada a existência de padres satânicos na região, e ficou-se assim a saber que naquela zona eram celebradas Missas Negras, assim como realizados Sabbats Satânicos, e que ali proliferavam bruxas e bruxos. O demonologista Pierre de Lancre testemunhou todas estas realidades, e foi com fundamento nas suas observações e notas pessoais que o demonologista escreveu varias obras influentes, tais como Tableau de L’Constance de Mauvais Anges de 1612, L’Incredulité et Mescréance du Sortilége de 1622, e De Sortilége de 1627. Foi com o demonologista Pierre de Lancre, que se ficou a saber que as bruxas se organizavam em «colmeias».

No «compendium maleficarum» , ou compêndio das bruxas, assim podemos igualmente ler que «As bruxas prometem esforçar-se com todos os seus poderes e por todos os meios, para atrair homens e mulheres ao pecado, desviando-os do caminho dos mandamentos cristão. Para isso, celebração trabalhos de magia negra através dos quais farão os prodígios do Diabo manifestarem-se nas vidas de homens e mulheres, infestando-lhes a existência. Também atrairão quantas mais almas que lhes for possível a caírem nas tentações do demónio, seja levando-as a entregar-se aos caminhos da magia negra e da bruxaria ao invés de aos braços da Igreja, seja acolhendo, promovendo e amparando todos os pecados da luxuria, da fornicação, do adultério, dos egoísmos, das vinganças e cobiças humanas. Assim se levam almas á perdição, ganhando-as para o reino do demonio.» Quando o Diabo por se ter agradado, escolher uma rara alma entre mil, para a chamar ao oficio de bruxa, também se comprometem as bruxas em tudo fazer para guiar essa alma ao pacto com o diabo, assim angariando mais uma nova bruxa para as hostes do demónio, e do culto satânico. As bruxas serão por isso missionarias do Diabo, conforme freiras e padres são missionários da Igreja. Procurarão atrair mais e mais homens e mulheres aos impios serviços da magia negra, conforme também angariarão novas noviças e noviços para o sacerdócio a Satanás, ou seja, novas bruxos e bruxos.

O Diabo pessoalmente incorporado num homem por possessão demoníaca, ou um representante em sua vez, administrará ás bruxas os profanos sacramentos do baptismo satânico, por oposição ao sagrado baptismo da Igreja. Deverão as bruxas no momento do baptismo abjurar o cristianismo, renunciado aos seus preceitos e anteriores sacramentos recebidos. Depois, devem as bruxas fazer a confirmação deste baptismo.»

Conforme o faziam as bruxas suecas em 1669, essa confirmação era feita através de terríveis juramentos e imprecações.

A bruxa Elisabeth Francis de Chelmsford era uma famosa bruxa por volta dos anos de 1566, e havia sido baptizada pelo Diabo conforme estes mandamentos inscritos no «COMPENDIO DAS BRUXAS». Nessa mesma altura, uma jovem chamada Bellot que estudava na academia de Bourignon, também foi levada ao seu baptismo de bruxa pela própria mae. também um bruxa, realizando-se a cerimonia conforme estes termos. A famosa bruxa Elisabeth Francis de Chelsford, uma das bruxas de Pendle, também assim foi baptizada.

Mais assim se pode observar no «compendium maleficarum» , ou compêndio das bruxas «Após confirmação deste juramento feito no baptismo, a bruxa passará a ser instruída nas artes da magia negra, ao passo que recebe do demonio um novo nome de baptismo» Dai em diante, será esse profano nome que identificará a bruxa diante dos demónios e todas as forças do inferno. Será a esse nome que espíritos e entidades responderão quando a bruxa lhes apelar através dos seus bruxedos. Daí que quando um humano normal tenta fazer um rito, por muito que ele esteja tecnicamente bem feito, porem ele não resulta, pois falta-lhe a chave fundamental: o nome da bruxa. Sem esse nome, as forças do mundo dos mortos, do mundo dos espíritos, do além-túmulo, não respondem. Logo, não há resultado algum. Apenas invocando o seu nome de bruxa, é que o apelo é escutado, e essas forças vem ao chamamento do bruxedo.

A bruxa Isabel Goedie de Aldearne foi baptizada por volta dos anos de 1662, e tanto ela como as demais bruxas da sua colmeia, escreveram o seu novo nome no Livro da Morte do Diabo, com o seu próprio sangue. È com o seu sangue que o pacto é assinado, e é com o seu sangue que o nome da bruxa é inscrito no Livro da Morte do Diabo. Entrando o sangue da noviça em contacto com o pacto e com o Livro Negro, o sangue torna-se sangue de bruxa.

Mais assim se revela no «compendium maleficarum» , ou compêndio das bruxas «Depois de assim estar feito, as bruxas cortam um pedaço da sua própria roupa, e em sinal de homenagem, entregam-na o Diabo que a conservará consigo». Ao faze-lo, a bruxa está a colocar-se inteiramente nas mãos do Diabo, pois sabe que se alguma vez desonrar o seu juramento para como demonio, aquele pedaço de roupa pode imediatamente ser usado num bruxedo que lhe será imediatamente fatal. Seguidamente, o Diabo desenha um círculo no chão, em torno do qual se colocam as noviças, as bruxas e os bruxos, que em voz altar confirmam por juramento todas as supracitadas promessas. Todos fazem o juramento nesse círculo, porque o circulo é o símbolo da Divindade, assim como a Terra é um circulo, e a terra é um supedâneo de Deus, e assim Satanás pretende que o aceitem como Deus e Senhor da Terra. Este é o motivo pelo qual os ídolos represetando Baphomet o retratam sentado em cima da terra, que é um círculo»

Também assim diz o «compendium maleficarum» , ou compêndio das bruxas, «Nestes ritos, as bruxas e bruxos pedem ao Diabo que risque os seus nomes do Livro da Vida de Deus, e os inscreva no seu Livro Negro. Nessa altura é solenemente trazida á sua presença um grande livro negro, o mesmo no qual as bruxas já tinham colocado as suas mãos, e assinado o seu nome com o seu próprio sangue. Agora, o nome delas é ali escrito e confirmado pela própria garra do próprio Diabo.»

Em qualquer colmeia de bruxas, este livro negro era sempre precioso, e guardado com a própria vida, uma vez que neste livro encontravam-se todos os nomes e identidades de bruxos e bruxas. No Livro Negro eram também escritas formulas magicas, bruxedos, e até registos escritos ou cronicas dos feitos históricos de anteriores bruxas. Por vezes, o livro negro servia apenas para conter formulas de magia negra, e cronicas sobre feitos mágicos de outras bruxas históricas. Dentro do livro negro, havia um Livro Vermelho, sendo que era nesse que se encontrava o registo das bruxas e bruxos baptizados.

A bruxa Silvain Nevillon de Orleans, em 1614 celebrou um Sabbat satânico na sua própria casa, onde um tal livro era igualmente usado para oficiar missa negra. A missa negra foi realizada por um homem vestido de negro, que folheava um livro negro enquanto murmurava entredentes encantamentos incompreensíveis. Depois, elevou o cálice da liturgia, um calice de estanho velho e rachado, onde estava algo imundo e fedorento. Em 1647, a bruxa Madelaine Bavent presenciou semelhante missa, onde estava um livro chamado o Livro das Blasfémias, que continha o Canon do Satanismo. Lendo dele, o padre satânico solenemente proferiu as mais hediondas maldiçoes contra a Santa Trindade, o Santo Sacramento do Altar, e outros sacramentos e cerimoniais da Igreja.

Mais assim diz No «compendium maleficarum» , ou compêndio das bruxas, «Nesta altura, a bruxa recebe a sua marca do Diabo. È o próprio diabo que lhe imprime a marca no corpo com a sua garra .Apos receber a marca do Diabo, a bruxa profere juramentos de abjurar a santa-trindade, e todas as crenças e praticas da Igreja. Em troca, o Diabo promete conceder a sua protecção á bruxa, auxiliar em todos os seus trabalhos de magia negra, e apos a morte garantir que a alma da bruxa vive eternamente aqui na terra, e investida de poder demoníaco. Estando isto solenemente professado, a cada bruxa é designado demónio chamado demónio «Magistellus», ou um espírito demoníaco familiar.» Frequentemente, no decorrer do Sabbat o demónio familiar incorporava por possessão demoníaca num homem, e a bruxa entregava-se-lhe em devassa luxuria. Também ocorreu por vezes o demónio familiar incorporar num animal como um bode negro, e terem depois ocorrido profanas obscenidades.

O espírito demoníaco familiar é um presente do Diabo para a bruxa. O espírito demoníaco familiar acompanhará para sempre a bruxa. Conforme um anjo acompanha um santo, pois um demónio familiar acompanha uma bruxa. E se através dos anjos os santos alcançam a pureza, então pela perversidade dos demónios familiares as bruxas contaminam-se todo o tipo de profana luxuria. O espírito demoníaco familiar é quase sempre um demónio Incubbus ou Succubus que escolhe a bruxa ou o bruxo. Sendo bruxa tratar-se-á de um demonio Incubbus, e sendo bruxo será uma demoniza Sucubbus. Henri Boguet ( 1550-1619),  notório demonologista e jurisconsulto, afirma no capítulo XII do seu «Discours des Sorciérs» (1602), que na conexão carnal entre o Diabo e as bruxas, o Diabo conheceu todas as bruxas e bruxos, porque ele assume uma forma feminina para agradar aos bruxos, e uma forma masculina para seduzir as bruxas. O próprio Boguet testemunhou um caso em que o demónio apareceu a um homem de nome Pierre Gandillon e George o seu filho, havendo a ambos seduzido e com eles simultaneamente mantido relações pecaminosas, para depois os converter em bruxos. O mesmo sucedeu com uma mãe e filha, a quem um demónio Incubbus se insinuou, havendo com elas cometido em simultâneo igual abominação lasciva, depois levando-as a tornarem-se bruxas.

Para alem do espírito demoníaco familiar, o diabo poderá depois conceder-lhe mais presentes, como um caldeirão, ou uma vara mágica. Poderá até conceder mais presentes, como foi o caso da bruxa Jane Wier, irmã do bruxo Thomas Weir. O Major Thomas Weir ( 1600-70), foi um militar e religioso que acabou por se tornar famoso pela pratica de magia diabólica ou magia negra. Thomas Wier. Thomas Wier, ainda na juventude, ele e a irmã Jane Weir haviam sido procurados pelo Diabo, que se havia insinuado neles com todas as formas de tentações, até que ambos cederam e fizeram Pacto com o Demonio, tornando-se assim bruxos. Jane Weir havia recebido um presente do Diabo na forma de um espírito demoníaco familiar que a acompanhou dai em diante. Jane Weir recebeu também uma roda de fiar que se dizia trabalhar sozinha durante a noite. Com isso a bruxa fez muito dinheiro, pois tinha uma capacidade de tecelagem muito maior que todas as outras mulheres da localidade. Mais que isso, alguns dos fios que roda de fiar produziam, era usados em amarrações com espantoso sucesso, pois essas amarrações eram amarradas com um fio que era obra do próprio demonio. E amarrações dessas, ninguém escapa. Muitas amarrações foram assim feitas com resultados lendários. Com essas célebres amarrações, também a bruxa Jane fez muito dinheiro, pois secretamente chegavam-lhe incontáveis pedidos para a amarração de homens em todo o tipo de circunstâncias. Depois de já serem bruxo e bruxa, os irmãos Thomas e Jane foram tentados pelo Diabo ao pecado do incesto, a que se entregaram sem restrições durante a celebração de Sabbats Satânicos, para grande deleite do demonio, que se sacia nos festins de pecado e lascívia. O bruxo Thomas usou também dos seus bruxedos para ter as mulheres que desejava. Uma delas foi a sua própria empregada, cometendo com ela o pecado do adultério debaixo do tecto do seu próprio lar. Outra das mulheres embruxadas foi a sua própria jovem enteada, consumindo-se assim outro inenarrável pecado. Os pecados amontoaram-se, para grande deleite do Diabo, que chegou mesmo a incorporar em animais, e através deles possuir tanto a bruxa Jane, como as mulheres embruxadas por Thomas. Se Jane tinha recebido um espírito demoníaco familiar e uma roca de fiar como presente do Diabo, já Thomas tinha recebido uma vara mágica na forma de um bastão ou bengala com a qual o bruxo andava a toda a hora, e jamais dela se separava. Era com essa vara que o bruxo – recitando os seus encantamentos em Latim – , invocava aos espíritos de trevas e as forças do inferno, para encantar e embruxar qualquer mulher que desejasse. Dessa forma, o bruxo chegou a ter fama de conseguir possuir para satisfação dos seus apetites de luxuria, qualquer mulher que desejasse. A fama do bruxo Thomas começou a espalhar-se, e consta que secretamente, muitos pedidos o bruxo recebeu para lançar amarrações de luxuria sobre várias mulheres, com a sua vara do Diabo. Ainda muito tempo depois de terem falecido, a fama dos bruxos Thomas e Jane Weir permanecia lendária, e foi registada numa publicação de Robert Chambers, «Traditions of Edinburg» (1825).

A doutrina do Satanismo conforme um caso verídico 

Houve um caso sucedido em França por volta do ano de 1330/35, que foi historicamente documentado, e que retrata a própria teologia satânica, ou teologia das bruxas. Isso foi observado no célebre caso da bruxa Catherine Derlot. A bruxa Catherine Derlot participou em memoráveis Sabbats Satanicos, onde os mais fortes de trabalhos d magia negra eram celebrados. Catherine Derlot tornou-se bruxa quando estando nos seus afazeres domésticos numa localidade de nome Pech-David em Toulouse, ela foi abordada por um homem de elevada estatura. O homem encantou-a com o seu olhar, e seduzindo-a, convidou-a a participar num Sabbat Satanico. Na próximo noite de sábado, Catherine Derlot compareceu á reunião de bruxas, onde viu o Diabo incorporar num enorme bode negro. Depois de o saudar, Catherine Derlot submeteu-se-lhe, dando-lhe os prazeres que o Diabo queria. Em troca, o Diabo ensinava-lhe todo o tipo de bruxedos para todo o tipo de assuntos, cada um deles sempre eficaz e de efeitos visíveis. O Diabo pedia-lhe também que frequentasse missas negras onde se profanavam as missas da Igreja, e se honrava a Satanás. Na sua iniciação, a bruxa Catherine Derlot recebeu um caldeirão como presente do Diabo, assim como ensinamentos sobre a forma como acender um fogo amaldiçoado que fosse chamamento ao próprio fogo dos infernos, assim realizando as mais fortes magias negras nesse caldeirão. Aprendeu também os ingredientes para os mais poderoso bruxedos feitos no caldeirão oferecido pelo Diabo, tais como ervas venenosas, órgãos de animais, e certas partes de defuntos que não houvessem sido baptizados, ou até obtidos por meio de sacrilégio ao solo consagrado dos cemitérios. Desses defuntos, usavam-se pedaços de unhas, pedaços de cabelo, pedaços de roupa, dedos, orelhas, línguas, cada coisa apropriada ao tido de bruxaria que ia celebrar. A bruxa Catherine Derlot muitas vezes afirmava para grande escândalo dos padres, que:

«Deus e o Diabo eram deuses iguais, um reinando sobre o reino do Céu, e outro reinando sobre o reino da Terra. Todas as almas que o Diabo conseguia seduzir, eram almas perdidas para o Altíssimo Deus do céu, e viveriam  perpétuamente na terra e no ar deste mundo, indo todas as noites visitar as casas onde habitaram em vida, e inspirar os vivos a servir ao Diabo ao invés de servir a Deus. Essas almas de antigas bruxas vagueando a terra, seriam por isso angariadoras de novas bruxas, num círculo que se perpetuava sem cessar. Afirmava a bruxa que recebeu estes ensinamentos do próprio Diabo, e que a luta entre Deus e o Diabo tem existido desde o início da eternidade, continuará a existir até ao fim da eternidade, e nunca deixou nem deixará de existir, porque é eterna, sem início, nem fim. Umas vezes um sai vitorioso, outras vezes o outro sai vitorioso, num ciclo sem fim, que sempre existiu, e sempre existirá. E é deste ciclo eterno e desta disputa sem fim que nasceu a própria Criação, e é esta contenda entre opostos que alimenta e sustenta a existência da própria criação. Sem esta luta entre um e outro, nada existiria.»

Era esta a doutrina que o próprio Diabo ensinara á bruxa Catherine Derlot, que é a doutrina do Satanismo que perdura viva até aos nossos dias.

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